No post anterior, falei sobre a história do celadon. Hoje vamos falar sobre a técnica desse esmalte no Japão.

O esmalte celadon no Japão

Esmalte celadon é o esmalte que colore de azul à verde por meio de queima final em redução, com pouco oxigênio. Esta pigmentação também se dá pela inclusão de pouquíssima quantidade de ferro no esmalte.

Se a proporção de ferro for pequena, a peça adquire uma cor leve como uma porcelana verde-esbranquiçada mas, se quase não contiver ferro, o esmalte torna-se transparente como nas porcelanas brancas e nas de fundo azul e branco (some-tsuke).

Celadon Amarelo

Se, ao contrário da redução, houver uma condição de excessiva oxidação na queima final, vai haver uma pigmentação puxada para a matiz amarela. E se a espessura do esmalte não for tão grossa, irá parecer-se com peças do tipo Kizeto ou Ofuke. Isto se dá porque tanto o celadon quanto o Kizeto e Sōmokubai (lit. cinzas de gramas e árvores), usam esmalte de cinzas (kaiyū) como base.

O esmalte Ofukeiyū, também chamado de “celadon de Mino” pode ser considerado um aparentado do esmalte celadon. Na sua queima final sua pigmentação ocorre de maneira igual ao celadon.

Apesar de termos descrito peças com tom amarelado, a maioria das vezes que falamos em celadon estamos nos referindo às peças azuladas. Talvez esta associação exista porque, na própria raiz da palavra japonesa, está presente o caractere “azul”.

E, desde a antiguidade, esse esmalte era uma composição de feldspato e cinzas.  E, apesar de ter sido nomeado “porcelana verde”, com certeza havia a consciência de que nesse esmalte de cinzas haviam pequenas quantidades de partículas de ferro.

No Sōmokubai existem impurezas, como o ácido fosfórico, e a sua coloração ganha um certo tom quente.  Pelo lado ruim, a pigmentação apresenta inconstância mas, por outro lado, pensa-se que há um fascínio na individualidade na pigmentação não uniforme do Sōmokubai.

Receitas de Celadon

Exemplo de Composição 1 – Feldspato de Fukushima 6: cinzas de isu (planta do gênero das Distylum) 4: Proporção restante, dióxido de ferro (pigmento ocre-vermelho, ou bengala) 1 à 2%

Exemplo de Composição 2: Feldspato de Fukushima 6: Tsuchibai 4 (cinzas de lenhas variadas)

Na composição 1, usa-se muito ferro pois as cinzas de isu possuem pouco. Mas, dependendo das características da cinza, existem também casos onde há ferro em abundância.

Por exemplo, a cinza de lenha variada Tsuchibai, dependendo do caso, pode apresentar até mais de 3% de ferro em sua composição. Nesse caso, há uma quantidade excessiva de ferro para o celadon, já que para esse esmalte é suficiente 1 à 2% de ferro. Quando há uma mistura de cinzas de galhos, que quase não contêm ferro, esse assemelha-se à composição do calcário.

Exemplo de Composição 3: Feldspato de Fukushima 5: Calcário 1: Caulim coreano 1: Pedra de sílica 3. Proporção restante de dióxido de ferro (pigmento ocre-vermelho, ou bengala) 1 à 2%

Exemplo de Composição 4: Feldspato de Fukushima 5: Calcário 1: Carbonato de estrôncio 1: Pedra de sílica 3. Proporção restante de dióxido de ferro (pigmento ocre-vermelho, ou bengala) 1 à 2%

Este é uma mistura de esmalte de some-tsuke transparente com adição de bengala (dióxido de ferro). O carbonato de estrôncio faz aumentar as bolhas de ar. Ele pode ser trocado pelo óxido de bário.

Apesar das misturas com calcário terem poucas impurezas e proporcionarem uniformidade na pigmentação, pode ser que elas também careçam de vida.

Ainda, no caso das argilas que possuam muito ferro, pode ser que não seja necessário adicionar os óxidos, como bengala, para se obter uma pigmentação de coloração leve de celadon. Isso porque, não através do esmalte, mas pela argila há a mudança dos parâmetros de pigmentação.

Assim, a pequena quantidade de ferro presente no esmalte (ou então na argila) e a queima final por redução são os pontos principais deste esmalte. Mas vamos ver que também a espessura do esmalte é indispensável.

Aplicação do celadon: esmalte grosso

Por causa da aplicação grossa de esmalte, a camada de vidro fica espessa. E por causa da inclusão de bolhas de ar no esmalte de caráter vítreo, quando há um aumento da espessura do esmalte, também aumenta a quantidade de bolhas. Como resultado, a luz sofre reflexão difusa, exibindo uma coloração complexa.

Ao ampliar a superfície esmaltada, as bolhas estão empilhadas em várias camadas. Ao ser atingida pela luz, a parte das bolhas fica clara, a parte sem bolhas fica com uma cor um pouco mais escura.  Fica, cada qual, com sua coloração, uma mistura de colorações complexas.

Se, neste caso, a quantidade de bolhas de ar for pouca e a espessura do esmalte for fina, a coloração fica sem vida, sem profundidade. Além disso, a cor fica pálida e a riqueza do azul esverdeado também torna-se fraca.

Então, para aumentar a riqueza das cores, não devemos simplesmente aumentar a proporção de ferro. Isso porque se só houver o aumento da quantidade do ferro, aumenta o escurecimento da peça e o esmalte acaba por tornar-se do tipo Ameyū ou Kuroyū (esmaltes japoneses de cor castanho e preto, respectivamente). Neste caso, “aplica-se o esmalte grosso”, aumentando a profundidade do celadon, criando uma pigmentação verde-azulada rica.

Ainda, na hora de aplicar 2 à 3 camadas de esmalte, misturamos ao esmalte uma pasta adesiva de algas chamadas por Funori faz com que a adesão do esmalte à argila seja melhorada.

  Por causa da camada grossa de esmalte, consequentemente, há uma facilidade de ocorrer craquelamentos. Craquelamento é a rachadura na superfície do esmalte e, inevitavelmente, ocorre em toda a peça na hora de tirá-la do forno. Mesmo nas peças onde é difícil ver, rigorosamente falando, com certeza apresentam pequenos craquelamentos. 

Essa peça passou a apresentar facilidade em apresentar sujeiras do envelhecimento juntamente com o craquelamento. Inicialmente, haviam surgido os craquelamentos mas com o uso excessivo, passou a ser perceptível visualmente.

À propósito, através do craquelamentos e o uso contínuo a água ou umidade se infiltram na peça e podem ocorrer rachaduras por expansão. Esse é um caso raro mas é chamado de expansão higroscópica.  Sendo cerâmica, a possibilidade de ocorrência disso não é zero.

Assim, com craquelamentos adquiridos ou inatos, o celadon mostra sua personalidade. É um esmalte com as origens simples nas cinzas de gramas e árvores, o sōmokubai, mas a variabilidade de suas cores e sua longa história, mostra-se como sendo um esmalte, em vários sentidos, profundo.

Fontes:

  • Asia Society, 2007. Korean Ceramics – http://www.asiasocietymuseum.org/region_results.asp?RegionID=5&CountryID=13&ChapterID=35
  • China Virtual Tours, 2014. A Brief History of Ceramics – http://www.chinavista.com/experience/ceramics/ceramics.html
  • Lee, S., 2003. Goryeo Celadon – https://www.metmuseum.org/toah/hd/cela/hd_cela.htm
  • Nanhai Marine Archeology Sdn. Bhd., 2016. Pottery – http://www.mingwrecks.com/pottery.html
  • Welcome to Chiangmai and Chiangrai magazine, 2014. The Making of Celadon – http://www.chiangmai-chiangrai.com/making_of_celadon.html
  • www.korean-arts.com, 2016. The Age of Celadon – http://www.korean-arts.com/about/age_of_celadon.htm
  • www.visual-arts-cork.com, 2016. Chinese Pottery (18,000 BCE – 1911 CE) – http://www.visual-arts-cork.com/east-asian-art/chinese-pottery.htm
  • Tōjiki, o yakutachi jōhō. Seijiyū. http://touroji.com/yuuyakunosyurui/seijiyuu
  • Mingren, Wu. Celadon appreciating pottery its aesthetic value and magical qualities. http://www.ancient-origins.net/artifacts-other-artifacts/celadon-appreciating-pottery-its-aesthetic-value-and-magical-qualities?page=0%2C1