Olá Pessoal! Nesse post eu quero me dedicar a um assunto muito importante para nós ceramistas.

Cuidar da nossa saúde no ateliê de cerâmica é essencial e não se enganem: na cerâmica trabalhamos diretamente com vários elementos tóxicos que muitas vezes atacam o nosso corpo de forma lenta e silenciosa.

É sabido que antigamente os ceramistas tinham uma expectativa de vida consideravelmente menor que os outros artesãos. Hoje em dia, temos o conhecimento para evitar doenças advindas de intoxicação. Não podemos ser displicentes ou ignorar essa ameaça. Com alguns cuidados, os riscos podem ser eliminados sem nenhum prejuízo ao nosso trabalho criativo.

No Brasil, raramente os fornecedores de insumos para ceramistas divulgam a toxidade de seus produtos o que torna o conhecimento prévio dessas ameaças um assunto essencial para nós.

Principais Perigos em um Ateliê

Intoxicação

Muitas das matérias-primas que compõem os esmaltes, por exemplo, possuem elementos tóxicos. Esses elementos podem ser absorvidos através da nossa pele, por ingestão ou ao respirá-los. Por isso, use máscara, se for tocá-los, use luvas e não leve comida ou bebida para o ateliê. Ao terminar o trabalho, lave bem as mãos e troque sua roupa de trabalho quando estiver em casa.

Os sintomas das intoxicações podem variar grandemente de acordo com o elemento envolvido. Se houver suspeita, entre em contato urgente com o seu médico para tratamento.

Sempre use uma máscara semi-facial com filtro P3 ao manusear esses produtos. Ao guardar a máscara, embrulhe-a em saco plástico para evitar contaminação com partículas suspensas no ateliê. As máscaras cirúrgicas não são adequadas. Ao manusear esmaltes com componentes tóxicos, sempre use luvas. Se não souber a composição de um dado esmalte se previna evitando inalação e contato direto com essa substância.

máscara semi-facial com filtro P3 – Fonte: 3M

Silicose

A silicose é uma doença ocupacional que ataca os profissionais que respiram o pó de sílica. Além dos ceramistas, mineiros, pedreiros são acometidos por essa doença. A sílica é um elemento presente nas argilas, nas matérias-primas para a elaboração de esmaltes, etc. e os sintomas podem aparecer após anos do uso inicial. O tamanho desse pó pode ser muito pequeno e ele pode ficar suspenso por dias em um ateliê. É uma doença silenciosa que pode causar pneumonia, tosse crônica e até câncer pulmonar.

A argila molhada é inofensiva mas quando seca e triturada dispersa um pó fino que cobre bancadas, pisos e outros superfícies. Boa parte desse pó é justamente composto de sílica.

Por isso, nunca varra o seu ateliê ou use aspirador de pó. Você assim estará espalhando as partículas de sílica, aumentando as chances de sua inalação. Ao invés disso, use sempre um pano molhado. Sempre quando for terminar o seu trabalho, passe um pano molhado sobre o piso e as bancadas de trabalho. O mop é um bom equipamento para a limpeza do piso nesse caso. Sempre deixe seu ateliê bem arejado. Evite lixar as peças mas se tiver que fazer, faça em local arejado e use máscara. Atenção especial também ao aplicar esmaltes por pulverização. Use uma máscara semi-facial com filtro P3.

Lesões

Trabalhamos com o fogo e por isso devemos nos proteger de queimaduras. Ao manusear objetos quentes, use luvas apropriadas. Não encoste nos fornos durante o funcionamento. Sua superfície pode estar muito quente.

Ao retirar peças do forno, mesmo estando frio use luvas. Isso porque as peças podem estar quebradiças e podem cortar a sua mão. Cerâmicas cortam tanto quanto facas!

A partir de 1.000º C, ao olhar para o interior dos fornos utilize óculos protetores. Esses óculos devem ter filtro infra-vermelho (o mesmo para solda). Isso porque a radiação emitida pelo forno nessas temperaturas pode causar catarata. Óculos escuros não são adequados.

Elementos e sua toxidez:

Abaixo fiz uma lista geral de materiais mais usados pelos ceramistas e sua relação com a saúde:

  • Argilas como caulim, ball clay, engobes, etc. são inertes se ingeridos. Todos eles (exceto caulim) possuem partículas diminutas de sílica e podem causar silicose.
  • Feldspato, Nefelina Sienita, Albita, Carbonato de Cálcio, Dolomita, etc. são rochas pulverizadas e contem sílica.
  • Carbonato de Bário é tóxico e deve ser manuseado com cuidado.
  • Talco e Wollastonita têm possivelmente poeira tóxica (as partículas são fibrosas). Tenham cuidado.
  • O óxido de chumbo, carbonato de chumbo, chumbo vermelho, cádmio, selênio etc. devem ser manuseados somente por especialistas.
  • Fritas são de uma maneira geral inertes e devem ser tratadas com o mesmo cuidado das rochas pulverizadas. É claro que as fritas de chumbo têm riscos potenciais.
  • Alguns elementos são inertes frios mas quando levados ao forno tornam-se perigosos quando volatilizam. Além disso, a poeira do material volatizado que precipita nos arredores do forno, oferece perigo de intoxicação. Prestar atenção especial aos óxidos metálicos corantes como o manganês, cobalto, níquel, cromo, vanádio, etc.

Cerâmica Livre de Elementos Tóxicos

Se você produz cerâmicas utilitárias, outra questão que deve se perguntar é a seguinte: minha produção é livre de elementos tóxicos? Lembre-se que seus clientes usarão seus produtos para servir-se de alimentos e líquidos e eles não podem oferecer risco à saúde deles.

Se você for comprar um esmalte e não souber sua composição, pergunte ao fornecedor sobre sua toxidez. Dê preferência a esmaltes livres de chumbo. Se você for produzir seu próprio esmalte, verifique a composição de cada elemento e consulte sua toxidez antes de usá-los.

Assistência

A anvisa (agência nacional de vigilância sanitária) mantém uma rede nacional de centros de informação e assistência toxicológica (Renaciat). Ela pode ser usada pelo cidadão através de seu portal na internet e, em casos de emergência, pelo telefone 0800.

Seguem informações retiradas de seu site (http://portal.anvisa.gov.br/renaciat):

“A Renaciat, coordenada pela Anvisa, foi criada em 2005 pela RDC nº 19. É composta por 36 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciats), que funcionam em hospitais universitários, secretarias estaduais e municipais de saúde e fundações de 19 unidades federadas.
Os Ciats têm como objetivo fornecer informações toxicológicas, assim como o diagnóstico, o tratamento e o registro dos casos de intoxicação e envenenamento provocados por agrotóxicos, medicamentos, cosméticos, domissanitários, produtos químicos industriais, metais, plantas tóxicas, animais peçonhentos, e quaisquer outras substâncias potencialmente agressivas para o ser humano.

Os Centros mantêm um serviço de plantão 24 horas para atender, por telefone e em serviços hospitalares do SUS, as demandas sobre intoxicações. Os serviços são prestados em caráter de emergência e urgência aos profissionais de saúde, que necessitam de informação ou orientação para o atendimento dos casos, e à população em geral.

O Disque-Intoxicação atende pelo número 0800-722-6001. A ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat). A ligação é transferida para o Ciat mais próximo da região de onde a chamada foi originada. Os 36 centros estão preparados para receber ligações de longa distância, 24 horas por dia, sete dias por semana, durante todo o ano.”

É isso aí pessoal! Se cuidem e até a próxima!

Fontes:

  • Renaciat. http://portal.anvisa.gov.br/renaciat. Site acessado em 17/11/2018
  • Being Realistic About Toxicity and Safety in Ceramics. https://digitalfire.com/4sight/education/being_realistic_about_toxicity_and_safety_in_ceramics_278.html. Site acessado em 17/11/2018