Olá!

Esta semana gostaria de continuar os estudos sobre a estética japonesa. Em outra ocasião, apresentei um estudo sobre a expressão “wabi-sabi“. Desta vez, gostaria de apresentar o conceito “shibui“.
O dicionário mostra dois significados distintos. O mais usado na língua japonesa é o relacionado ao gosto adstringente (como o do caqui verde ou do vinho seco). Mas o sentido da palavra shibui que nos interessa aqui é outro. Mas antes de explicar, vamos às suas origens:

Origens

Este termo surgiu nas cerimônias do chá, que têm a intenção propiciar aos seus participantes um estado de comunhão e paz interior. Ao longo do seu desenvolvimento, os mestres da cerimônia desenvolveram etiquetas, escolheram utensílios, decoraram as salas de chá e jardins no sentido de induzir o processo meditativo nos participantes.
O intelectual japonês e mentor dos ceramistas Shōji Hamada e Bernard Leach, Sōetsu Yanagi, escreveu que a cerimônia do chá é uma manifestação estética da prática zen budista. O objetivo da seita zen é o da iluminação (satori) através da meditação. E a meditação é um estado a ser alcançado não só nos templos mas também nas artes tradicionais japonesas, como a cerimônia do chá. Vemos então o elo em comum entre a seita zen e a cerimônia do chá. A origem dessa seita é na Índia e o caractere chinês da palavra zen (禅) é uma transliteração do termo em sânscrito dhyāna, que significa meditação ou contemplação.

Os Utensílios

Nesse ambiente de valorização espiritual, os utensílios na cerimônia do chá são não só selecionados pelo seu caráter funcional mas são também pelo seu valor estético. As cerâmicas e especialmente as tigelas de chá (chawan) têm um papel importante na cerimônia e dedica-se um momento para que os participantes possam apreciá-las minuciosamente, da borda até à base.

Apreciação do Chawan. Fonte: pds.exblog.jp/pds

A Conceituação
Como critério de seleção e apreciação desses utensílios e da arte em geral, surgiram vários termos que tornaram-se comuns também na estética japonesa. Shibui é um desses e não há tradução direta para o português. Segundo Yanagi, os adjetivos próximos são “austero”, “comedido” e “tênue”. A beleza que ela exprime é a introversão. Seus antônimos seriam “exibido”, “vulgar”e “chamativo”. Traçando um paralelo com a religião zen budista, vemos que o silêncio e austeridade são qualidades e instrumentos para a elevação espiritual. E, assim como no cristianismo, a pobreza e a humildade encaixam-se na “filosofia do vazio” zen budista.

Tigela de chá ‘Kizaemon’. Séc. XVI, Coreia. Templo Daitoku-ji, Quioto, Japão.

Nesse sentido, uma peça qualificada com ‘shibui‘ apresenta tons de cores esmaecidas, sem nenhuma ou pouca decoração e possui uma forma simples. Quanto à deformação, Yanagi diz que ela deve ser espontânea, resultado do trabalho puramente intuitivo do artesão. Na verdade, algumas das tigelas mais apreciadas no mundo da cerimônia do chá surgiram pelas mãos de humildes ceramistas coreanos da era Joseon (1392 – 1897). Seu caráter despretensioso, simples, de certa maneira pobre mas com grande vitalidade cativaram os apreciadores e capturam bem o espírito que cerca o termo shibui.

Fonte:

  • Yanagi, Sōetsu. The Unknown Craftsman. Ed. Kodansha USA.