Origens

O método para a criação do esmalte sangue de boi foi descoberto provavelmente durante o reino de Wanli (1573–1620), na China. Exemplos antigos desses trabalhos são extremamente raros. O processo, inicialmente, era extremamente difícil de controlar mas foi dominado no tempo de Kanxi (1661–1722) e Qianlong (1736–96), da dinastia Qing chinesa.

Composição

Após o domínio da técnica, o conhecimento desse esmalte foi sendo disseminado por todo o Oriente. No Japão se chama Shinsha, que em japonês significa cinábrio, ou sulfeto de mercúrio, mineral de cor vermelha escura. Curiosamente, reúne os caracteres de dragão e areia. No ocidente, esse esmalte ganhou o nome de sang de bouef (sangue de boi, em francês) e ele é conseguido adicionando uma pequena quantidade de cobre (1 à 2%) ao esmalte básico transparente em queima de redução. Como o seu nome sugere, sua coloração é de um belo vermelho sanguíneo.  Em relação às matérias-primas do esmalte, é usado o óxido cuproso (Cu2O) e o carbonato de cobre mas, ao queimar sob chamas redutoras, estes são transformados em óxido cúprico (CuO). Em relação à quantidade de cobre, a quantidade de carbonato de cobre é maior que a de óxido de cobre – para 10g de óxido de cobre são adicionados 16g de carbonato de cobre. E para o pigmento auxiliar, são adicionados 2 à 3% de óxido de estanho. É usada a soda, fartamente presente no feldspato do esmalte básico transparente e também verifica-se que a adição de bário e estrôncio propicia um  bom resultado na pigmentação.

Vários Tipos

Apesar de usado o termo geral Shinsha, existem dentro deste 3 tipos distintos: Gyūketsukō, Kaensei e Tōkahen; o Gyūketsukō é vermelho como o sangue de boi, Kaensei é quando aparecem na peça desenhos azul-violeta sobre o vermelho e o Tōkahen ou Tōkakō é quando manchas rosas ou de um vermelho desbotado aparecem na peça.

E, ainda, quando a peça recebe inteiramente a coloração vermelha, ela recebe também a denominação Yūrikō e existe uma técnica para pintar somente as áreas de desenhos ou escritas. Isto é quando são colocados pigmentos que incluam cobre e faz-se a pintura por baixo do esmalte (Shita-e) com pincel, sendo por cima aplicado o esmalte transparente e depois, como é de se esperar, a peça é queimada por chama de redução.

Esmalte sangue de boi em atmosfera de oxidação (esquerda) e de redução (direita). Fonte: Zenbee.com

A Busca pelo esmalte na Europa

Na Europa, alguns ceramistas conseguiram reproduzir esse esmalte. Theodore Deck, o ”pai” da cerâmica francesa e diretor da famosa porcelana de Sèvres era bem conhecido por suas peças sang de boeuf. Da mesma maneira, o seu colega e conterrâneo Ernest Chapel, que começou seu aprendizado na cerâmica Sèvres aos 12 anos, dedicou o final da sua vida à produzir o sang de boeuf. Na Inglaterra, Bernard Moore recriou com sucesso vários esmaltes chineses. William Howson Taylor, co-fundador da cerâmica Ruskin guardava à sete chaves os segredos dos esmaltes, inclusive o sang de boeuf e destruiu todas as fórmulas de esmaltes antes de morrer. 

É irônico saber que hoje em dia qualquer pessoa pode acessar a fórmula para fazer esse esmalte. Resta saber se temos a habilidade necessária para fazer um bom exemplar.

Fontes: