O que é Kohiki?
A técnica conhecida como Kohiki teve seu início entre o séc. XV e XVI. Eram originariamente queimadas na península coreana e vêm da família de cerâmicas de aparência geral branca. Na época, governava a dinastia Joseon (de 1392 até 1910) e os grupos de peças que tinham como decoração principal o engobe branco eram conhecidas genericamente como Funseisaki (pronúncia japonesa), Buncheong Sagi ou Punch’ong Sagi, em coreano.
O Kohiki foi uma das técnicas usadas pelos coreanos para decorar suas peças destinadas ao mercado local que atraiu o interesse da elite de apreciadores da cerimônia do chá no Japão. Através dos mercadores coreanos radicados em Osaka e depois com a invasão da península coreana pelo exército japonês no final do séc. XVI, o que era uma cerâmica considerada como de 2ª categoria pelo coreanos foi elevada ao mais alto grau estético pelos japoneses. Na verdade, o Kohiki surgiu na Coreia para saciar o desejo dos menos abastados por cerâmicas de aparência branca já que era proibido o uso de porcelanas pela população comum. No final da invasão, quando o exército japonês estava se retirando da península coreana, vários ceramistas coreanos foram trazidos com eles e estes ajudaram a impulsionar o desenvolvimento da cerâmica no arquipélago japonês. Se os ceramistas coreanos foram raptados ou voluntariamente quiseram ir ao Japão ainda é um assunto controverso. Existem relatos que apontam para as duas possibilidades: pelo menos um ceramista coreano tentou retornar à sua terra natal e outro tornou-se um samurai, tamanho o prestígio que teve na época no Japão.
Além da representativa Kohiki, dentre as peças Funseisaki podemos mencionar também o celadon, que é a aplicação de esmalte celadon sobre a ornamentação em argila branca; o Sogan Funsei, que era a inserção de engobe de cor diferente na parte que era raspada da decoração branca; ou Mishima-de, que é a remoção da parte branca na ornamentação de argila branca.
O corpo de argila era variado mas o exemplo de pintar de engobe branco as argilas escuras, com alto teor de ferro, para a peça tivesse uma aparência mais branca era o caso mais comum. O tipo de Funseisaki chamado Kohiki, na época, na península coreana, foi gradualmente deixado de ser produzido mas, hoje em dia, numerosas peças de Kohiki vêm sendo produzidas, principalmente na Coreia e Japão.
Como Fazer
Simplificando o processo, um mistura bem líquida de engobe branco é preparado e a peça ainda crua (no ponto de couro) é mergulhada sobre ela. Um ingrediente comum a esta mistura é o caulim. Entretanto, recomenda-se o uso de aditivos como a sílica, que combate o encolhimento excessivo da camada de engobe e o feldspato, que age como um fundente, ajudando a aderência do engobe ao corpo da argila. As proporções sugeridas são 70% de caulim, 20% de sílica e 10% de feldspato. Antes da adição dos aditivos, a argila branca (ou qualquer outro ingrediente plástico) é dissolvido separadamente. Depois de adicionados os outros ingredientes a solução é peneirada em malha 100. Para facilitar a aderência do engobe e também evitar a decantação dos ingredientes na solução, usa-se tradicionalmente um pouco de xarope de algas do tipo funori, que é adicionado à mistura (na falta deste, usa-se a metil-celulose). A aplicação do engobe segue a mesma maneira que a aplicação do esmalte, podendo ser por submersão, com a ajuda de um pincel, com a ajuda de uma caneca, etc.
As características do Kohiki
É usado, basicamente, em peças de argila com alto teor de ferro. Por cima delas, é aplicado o engobe de cor branca. O kohiki, de modo geral, tem a aplicação do engobe branco por toda a peça (inclusive a base, ou kōdai).
Depois da ornamentação do engobe branco sobre o corpo de argila escuro, o esmalte transparente é aplicado e feita a queima final. Podemos perceber a argila escura, com alto teor de ferro, vindo à tona, por baixo do engobe.
As minúsculas fendas dos craquelamentos, as bolhas de ar na superfície (Buku), as erupções de vindas de pequenas rochas (Ishihaze) e os matizes resultantes da mistura entre o engobe branco e o corpo de argila negro, rico em ferro, são todos aspectos apreciados no que é chamado da “paisagem” (keshiki) da peça.
A finalização feita na base circular nos dá uma impressão forte em sua forma ortodoxa. O lugar onde o engobe fica ralo, espalha-se a cor do corpo da argila, rico em ferro. Além disso, uma parte da cor cinza do corpo de argila aparece nu nos arredores e na parte da peça que encosta no chão, ou tatami (chamada de tatami-tsuki). Dessa forma, apesar do engobe branco servir como base geral, o aspecto do recipiente, em numerosos lugares, rico em matizes, apresenta um dos encantos do kohiki.
Fonte:
- 粉引. http://touroji.com/choice/kohiki.html
- Covell, Jon Carter e Alan. The World of Korean Ceramics. Si-sa-yong-o-sa, Inc.
- Wilson, Richard. Inside Japanese Ceramics. Ed. Weatherhill.
[…] por vezes aparece na peça). Na garrafa abaixo eu usei a técnica japonesa kohiki (veja sobre ela aqui). Veja como a argila vermelha do terracota ficou cinza. Isso é sinal que houve redução no […]