Tomobako

No ocidente, ninguém dá realmente muita atenção à caixa após receber um presente ou quando compra algo para si mesmo. Pensamos que está lá simplesmente lá para acomodar seus conteúdos e depois ser jogada fora. Ela não nos diz muito sobre os elementos contidos nela a não ser pelo nome e tipo da loja.

Isso não é bem assim para a maioria dos bens japoneses. Embalar no Japão é um negócio sério. A caixa, para a maioria das obras de arte, é um trabalho de arte por si só e usualmente recebe uma esplêndida caligrafia feita pelo ceramista. A caixa que acompanha a peça cerâmica se chama, em japonês, tomobako. É a união dos caracteres tomo, significando acompanhamento e hako, caixa.

Tomobako

Caixa para Cerâmica

Existe uma anedota interessante acerca de uma caixa de madeira e um excêntrico gourmet-ceramista chamado Fusajirō Kitaōji , cujo pseudônimo era Rosajin Kitaōji. Em uma viagem para a Europa em 1954, ele fez uma visita à Picasso. E assim foi como Sidney Cardozo escreveu sobre esse encontro em seu livro “A Arte de Rosajin”.

Quando Rosajin foi visitar Picasso, ele trouxe para este renomado artista ocidental um exemplo de suas cerâmicas. Naturalmente, ela estava acondicionada em uma das mais belas caixas feitas de madeira de paulownia. Picasso ficou fascinado pela suavidade da madeira e brilhou de prazer ao tocar sua superfície. Impacientemente, Rosajin trovejou “Não a caixa, não a caixa, sua criança boba! O que eu fiz está dentro da caixa!”

Eu não posso imaginar quem estaria mais surpreso. À título de nota, um mestre artesão usualmente faz as caixas, alisa a superfície e monta-a com pregos de madeira ou simplesmente por encaixe de marcenaria.

O ceramista, então, irá cuidadosamente selecionar uma corda de amarrar que adicionará um pouco de classe ao pacote assim como para fixar a tampa no lugar. Existe uma maneira certa para fazer o nó. Atenção é dada inclusive na colocação correta da tampa. Veios da madeira entre os lados e a tampa devem coincidir. Alguns ceramistas até carimbam a caixa e a tampa para mostrar exatamente onde os lados devem alinhar-se.

Além disso, o valor da caixa tem um papel significativo ao determinar o preço do conteúdo. No Japão, o valor da obra de arte pode valer a metade se não existir a sua caixa original assinada. Se a caixa for assinada pelo filho do artista ou aprendiz, isso também ira diminuir o valor em comparação com a peça que está em sua caixa original assinada pelo próprio artista. Se você está falando de peças com alto valor, como uma tigela de chá (chawan) de Arakawa Toyozō, isso pode significar uma diferença bem substancial de ienes.

Além disso, até ceramistas famosos não carimbam suas peças. Assim, uma das únicas formas de atestar a autenticidade da peça é justamente pela caixa que a acompanha. Um exemplo foi o famoso ceramista Shōji Hamada. Vamos ver quais eram as suas considerações sobre esse assunto:

Um vaso feito por Hamada e o verso da tampa assinado. Fonte: Wikipedia

Eu agora penso que é desnecessário por um selo ou carimbo no seu trabalho antes de você ter atingido um décimo da sua vida como ceramista. Isto pode ser interpretado como irresponsável ou arrogante. Eu admito que durante os meus anos em Quioto e a minha estada na Inglaterra eu marquei minhas obras com um carimbo e até mesmo marquei o carimbo “S.I.”, da cerâmica Leach, em minhas peças. Eu, desde então, tive outros pensamentos sobre isso. Em Mashiko, o marcar as minhas iniciais ou carimbar as minhas cerâmicas, bem naturalmente, se apagou da minha mente. Eu tenho, subsequentemente, recebido graves reprimendas por pessoas porque eu não marco as minhas peças caras de exposição, sendo atacado por ser irresponsável. Mas deve ser lembrado que, de acordo com as tradições japonesas, os compradores japoneses sempre compram a caixa para esse tipo de peça e eu tenho que assinar a tampa assim como por um carimbo nela. A caixa autentica a cerâmica pela tradição japonesa, então é desnecessário marcar a peça também. Isto me deixa livre.”

Então esta é uma boa razão para manter as caixas em boas condições. Muitas galerias e colecionadores normalmente embalam as caixas para mantê-las em estado impecável e assim obter um alto valor.

Como podem imaginar, a caligrafia é uma arte muito respeitada no oriente e muitos ceramistas também são adeptos ao pincel. Alguns escritos nas caixas são delgados e dão um senso de fumaça de incenso se afastando à deriva. Outros, escrevem com traços que são fortes e corajosos, imbuídos de uma espontaneidade determinada.

Muitas vezes, um tomobako terá um pedaço de papel sobre ele. Isto serve para proteger a caligrafia.

A escrita usualmente começa pelo canto da parte superior direita ou o topo da tampa ou atrás da tampa. Alguns ceramistas até assinam no verso da própria tampa, então certifiquem-se em olhar bem a caixa.

A caligrafia pode nos dizer o estilo, a forma, o tipo de esmalte, o ano e o nome do forno. A maioria dos ceramistas usualmente assinam o seu nome no lado esquerdo inferior.

A caixa possui um papel significativo no valor e proteção da maioria das cerâmicas japonesas, apesar do fato que a grande alegria vem em tirar a peça fora da caixa e apreciá-la em nossas vidas cotidianas.

Fontes:

  • Leach, Bernard. Hamada, Potter. pg. 166. Ed. Kodansha
  • Yellin, Robert. The box, don’t throw it away. http://www.e-yakimono.net/html/thebox.HTM