Olá pessoal!
Semana passada, eu escrevi sobre o início da história dos chawans no Japão, com a introdução das peças vindas da China e da Coreia. Nesta semana, vou dar continuidade, descrevendo a 2ª metade da história para vocês, quando o Japão desenvolveu sua própria linguagem na criação das tigelas de chá.
Século XVI
Raku – Criando de acordo com a estética de Rikyū
A cerâmica Raku (楽焼) teve seu início quando o grande mestre da cerimônia do chá, Sen no Rikyū, teve as peças de sua preferência pessoal queimadas pelo ceramista de Quioto, Chōjiro. O chawan de Raku não usa torno e é modelada pela técnica te-dzukune (amassando com a mão). Cada chawan de Raku tem, assim, um formato único. O Kokuraku (ou Raku negro) é criado quando a peça é retirada do forno no meio da queima, mudando sua cor para o negro.
É irônico pensar que o ceramista se esforça em criar cada chawan único para que este possa ser segurado pelas mãos de qualquer um.
Oribe – A criação chegou, enfim, às formas idiossincráticas
Na era Momoyama, as cerâmicas para chá feitas no Japão (wamono) pularam para o papel de protagonistas. No ano 14 da era Tenshō* (1586), depois de Sen-no-Rikyū ter usado o chawan “soekigata” em uma cerimônia do chá, revelaram-se nos diários das cerimônias do chá, sem cessar, chawans feitos no Japão. Foram, assim, sendo abertas as portas para criação de chawans japoneses para que foram ao rumo de uma plástica de forte deformação e idiossincrasia.
[Ponto Importante]
Chamada por Kutsu-gata (forma de sapato), o cilindro é propositalmente deformado em uma elipse, forma característica dos chawan de Oribe. Nessa beleza singular o esmalte Shino, o hikidashi-kuro, ou “preto puxado” (técnica na qual, no meio da queima, a peça é retirada e sofre rápido resfriamento e o esmalte à base de ferro presente nela transforma-se em um preto lustroso) entre outros elementos, foram sustentando novas técnicas artísticas locais.
* – A era Tenshō foi um período do Japão depois da era Genki e antes da era Bunroku e compreendeu o reino dos imperadores Ogimachi e Go-Yozei.
Século XVII
A concepção deslumbrante de Yamato
Acompanhando a estabilidade do Shogunato de Tokugawa, tornou-se notável o movimento que saía da beleza idiossincrática e buscava a beleza clássica com um senso de estabilidade. Enshū Kobori foi seu grande representante, propagando o conceito de kirei-sabi (beleza simples). Nesta época, Quioto iniciava a produção de porcelanas em grande escala e os chawans em iro-e de Ninsei, cheios de requinte e com ares de nobreza, adequou-se ao estilo de chá de Kanamori Sōwa, atraindo a atenção para uma nova era de utensílios de chá.
[Ponto Importante]
Sobre o esmalte branco, fez-se a queima de fixação de desenhos uwa-e (pintura sobre o esmalte) esplendorosos do estilo Yamato*. Através do impressionante emprego do torno ao modelar uma forma suave e curvilínea, faz-se o contraste com os rústicos chawans do estilo wabi.
* – Yamato-e – é um estilo de desenho inspirado em desenhos da dinstia Tang chinesa, considerada o estilo clássico de pintura japonesa. Esta técnica já encontrava-se totalmente desenvolvida na era Heian.
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