O esmalte celadon é uma das cerâmicas mais admiradas por suas tonalidades sutis de verde e azul, conhecidas por suas profundas associações históricas e culturais. Mas o que torna essas cores tão especiais? A resposta está na complexa química do ferro presente no esmalte e como ele reage ao processo de queima.

Tradicionalmente, muitos ceramistas acreditavam que a transformação de cor nos esmaltes contendo ferro ocorria por uma mudança no estado de oxidação do ferro de Fe³⁺ (óxido férrico) para Fe²⁺ (óxido ferroso). No entanto, um estudo recente publicado na revista Cerâmica revela que, no caso dos esmaltes celadon, a história é um pouco diferente – e mais fascinante!

A Redução e o Ferro no Esmalte Celadon

Durante o processo de queima em atmosferas redutoras (como aquelas ricas em CO – monóxido de carbono), o ferro no esmalte celadon passa por uma modificação estrutural, sem necessariamente mudar completamente seu estado de oxidação. Em vez de converter todo o Fe³⁺ em Fe²⁺, o ferro mantém sua forma de Fe₂O₃ (óxido de ferro III), mas de uma forma ligeiramente distorcida.

Essa distorção ocorre no que é conhecido como os octaedros de FeO₆, que são estruturas onde o ferro está rodeado por seis átomos de oxigênio. A atmosfera redutora e as altas temperaturas (geralmente entre 1200°C e 1300°C) causam uma redistribuição dos átomos de oxigênio ao redor do ferro, criando uma modificação na ordem de curto alcance da estrutura cristalina do esmalte. Embora macroscopicamente o esmalte possa parecer em estado vítreo, essa mudança sutil altera a maneira como os elétrons do ferro interagem com os átomos de oxigênio ao seu redor.

Por que Isso Importa para a Cor?

A mudança estrutural nos octaedros de FeO₆ afeta diretamente as propriedades eletrônicas do esmalte. Mesmo sem uma transição total de Fe³⁺ para Fe²⁺, a interação entre os orbitais dos íons de ferro e os íons de oxigênio ao redor cria bandas eletrônicas híbridas. Essas bandas estão diretamente relacionadas à cor do esmalte: no caso dos esmaltes celadon, essa modificação resulta em suas famosas tonalidades de azul-esverdeado.

De forma simples, a coloração nos esmaltes celadon é resultado dessa modulação da estrutura do óxido de ferro III, e não de uma redução completa para óxido ferroso. O ferro mantém seu estado de oxidação, mas sua configuração eletrônica e estrutural se altera, mudando assim a maneira como a luz é absorvida e refletida.

Conclusão

A beleza do celadon está enraizada em uma química fascinante, onde a redução atmosférica altera a estrutura do ferro sem mudar completamente seu nível de oxidação. Esse fenômeno revela como, na cerâmica, até as menores modificações na estrutura podem ter impactos profundos nas propriedades visuais do material. Para os ceramistas, entender essa complexa interação entre química e arte pode abrir novas possibilidades criativas, enquanto preserva a herança tradicional dessas peças tão admiradas.

Fonte
Hidaka, M., et al. Structural and Electronic Properties of Iron Oxides in the Celadon Glazes (II), Cerâmica (2012).