Olá! Estou abrindo esse blog no intuito de disseminar o conhecimento sobre cerâmicas. Olhe ao redor, estamos cercado delas: no banheiro, na cozinha, no chão… Nem percebemos, mas elas estão lá.
Mas eu gostaria nesse blog falar mais no aspecto artístico desse material. A origem das técnicas, o fascínio da alquimia que ocorre em temperaturas altíssimas….
Primeiro, vou falar um pouco sobre mim. Sou arquiteto e morei 3 anos em Quioto, no Japão. Lá, frequentei aulas da cerimônia do chá, estudei paisagismo japonês e pratiquei zen budismo. Quando voltei ao Brasil, descobri a cerâmica e percebi que ela complementava os outros campos de interesse que tinha cultivado anteriormente na minha vida. Desde então, tenho me dedicado a entender mais sobre o assunto, não só traduzindo textos em japonês mas também botando, literalmente, a mão na massa.
Eu gostaria de estrear esse blog falando de uma técnica conhecida tanto por orientais como ocidentais. Ela se chama Raku.
Cerâmica Raku (楽焼 raku-yaki – o r se pronuncia como no r em para) é um tipo de cerâmica japonesa tradicionalmente usada nas cerimônias de chá, especialmente nas tigelas de chá (chawan). São tradicionalmente caracterizadas por serem moldadas à mão (ao invés de modeladas pelo torno); são relativamente porosas, resultam de queima à baixas temperaturas; são cobertas por esmaltes à base de chumbo; e há a remoção da peça do forno enquanto ela ainda está incandescente. No processo tradicional japonês, a peça de raku é removida do forno e deixada esfriar à temperatura ambiente. A técnica usual, que coloca a peça em um recipiente cheio de material combustível, não é a prática do raku tradicional, já que as técnicas de raku tradicional vêm sido modificadas por ceramistas contemporâneos mundo afora.
As Origens
Raku quer dizer “conforto”, “fácil” ou “divertimento” e vem de Jurakudai, o nome do palácio em Quioto, construído por Toyotomi Hideyoshi (1537–1598), que era o maior guerreiro e homem de estado daquela época.
No sec. XVI, Sen no Rikyū, mestre de chá japonês, estava envolvido na construção do Jurakudai e tinha um artesão que fazia os azulejos, chamado Chōjirō. Sua parceria resultou também em tigelas de chá moldadas à mão para serem usadas nas cerimônias de chá de estilo wabi, idealizadas por Rikyū. Essas peças eram, inicialmente, chamadas de “ima-yaki” (cerâmica contemporânea) e eram diferenciadas das Juraku-yaki, da argila vermelha (Juraku) que eles empregavam. Hideyoshi presenteou Jokei, o filho de Chōjirō, com um selo no qual estava gravado o ideograma chinês raku. Raku então tornou-se o nome da família que produzia esta cerâmica. Tanto o nome como o estilo cerâmico vêm sido passado pelos membros da família (alguns por adoção) até a presente 15ª geração (Kichizaemon). O nome e o estilo da cerâmica tornou-se influente tanto na cultura japonesa como em sua literatura.
O Raku no Ocidente
O raku tornou-se popular entre ceramistas americanos no final da década de 1950, com a ajuda de Paul Soldner. Os americanos mantiveram o processo geral de queima, ou seja, aquecimento repentino da cerâmica e resfriamento rápido, mas prosseguiram formando seu estilo único de raku.
São os resultados imprevisíveis e sua coloração intensa que atraem os ceramistas modernos. Esses padrões e o resultado na coloração são resultados do processo de resfriamento brusco e a quantidade de oxigênio que é permitido chegar à cerâmica. Dependendo de qual efeito o artista deseja, a cerâmica é resfriada instantaneamente na água, resfriada aos poucos à temperatura ambiente ou colocada em um tonel coberto de material combustível, como papel de jornal e coberta, permitindo a geração de fumaça. A água imediatamente resfria a cerâmica, interrompendo as reações químicas do esmalte e fixando as cores. O material combustível resultante da fumaça mancham as partes não esmaltadas de preto. A quantidade de oxigênio que está disponível durante o processo de queima e resfriamento afeta a cor do esmalte e a quantidade de rachaduras.
Ao contrário do raku tradicional japonês, que são tigelas de desenho modesto feitas à mão, o raku ocidental tende a ser vibrante em cores e ter muitos tamanhos e formatos. O raku ocidental pode ser de tudo, desde um vaso elegante até uma escultura abstrata excêntrica. Apesar de algumas serem feitas à mão, a maioria dos ceramistas ocidentais usam tornos enquanto estão criando suas peças de raku. A cultura ocidental até mesmo criou um sub-ramo do raku chamado raku de crina de cavalo. Essas peças são normalmente brancas com linhas pretas embaralhadas e borrões de tipo esfumaçados. Esses efeitos são criados colocando crinas de cavalos, penas ou até mesmo açúcar na cerâmica assim que ela é removida do forno enquanto está extremamente quente.
Estas fotos foram tiradas em um evento de raku em que eu participei. Abaixo está uma peça feita por mim, antes e depois da queima. No próximo blog, explicarei melhor como é feito o processo do raku ocidental. Até lá!
Ola Gustavo
Muito legal seu texto. Vc saberia indicar algum livro para aprender mais sobre raku?
Olá! Obrigado pela leitura e o contato! Tem um livro brasileiro que tem um capítulo dedicado ao Raku. Chama-se “Cerâmica – Arte da Terra”, editado por Miriam Gabbai, Ed, Callis. A edição está esgotada mas você pode conseguir comprar em sites como a Estante Virtual.
Oi, Gustavo. Estou amando a leitura de seus textos. Há alguns anos apaixonei-me pela cerâmica. Tenho feito pesquisas com esmaltes de cinzas, meu forno é elétrico. Sou professora de português, da rede pública e não vejo a hora de me aposentar para me dedicar exclusivamente à cerâmica. Muito legal encontrar alguém, como você, que socializa tão claramente os conhecimentos adquiridos. Obrigada!
Obrigado Efigênia pela leitura e pelo apoio! Desejo muita sorte na cerâmica e nas suas pesquisas!
Olá Gustavo. Descobri seu site e blog hoje, “surfando” na internet. Estou iniciando no mundo da cerâmica com algumas aulas e muitos projetos para o futuro. A técnica de raku me encanta e acho que a facilidade e a independência do forno a gás me atraem. Aliás, foi o seu último artigo no blog que me trouxe até aqui. Espero aprender muito com seus artigos.
Já estive no Japão duas vezes e Kioto ficou marcada pela tradição preservada! Invejo,”sadiamente”, a experiência que você deve ter adquirido morando por lá. Parabéns pela sua iniciativa de compartilhar seus conhecimentos. Um abraço.
Olá Celso, obrigado pelas palavras de incentivo. Kioto é realmente inesquecível. Bons estudos e grato pela leitura!
Bom dia Gustavo!
Gostaria de comprar um forno para dar de presente para minha filha, ela faz peças incríveis. Onde compro e qual vc recomenda?
Amei conhecer através de seus textos a técnica raku.
Forte abraço.
Olá Leci, como eu construo meus próprios fornos, não tenho condição de lhe recomendar uma marca. Obrigado pela leitura!