Através do calor do forno que queima a cerâmica, grande parte dos materiais entram em combustão ou se fundem. Dentre esses elementos, as cinzas vegetais são um dos componentes mais tradicionais. Elas são usadas como ingredientes de esmaltes e são muito populares entre os ceramistas do extremo oriente. Esmaltes antológicos como celadon, chun, tenmoku… Na verdade, é difícil nomear um esmalte oriental que não utiliza (ou pelo menos utilizou em sua formulação original) a cinza.
As cinzas vegetais podem variar em sua composição dependendo do tipo de planta, sua idade ou até mesmo se o espécime está sadio ou doente. As monocotiledôneas (como a grama e o arroz) são mais ricas em silício, material refratário e formador de vidro. Já as dicotiledôneas contém cálcio e magnésio, dois elementos fundentes.

Jogo de sakê. Michael Coffee. Esmalte de cinzas (sem lavar). Queima em cone 10 por redução

Como todos sabem, para se preparar as cinzas é necessário queimar o material vegetal. Porém, somente cerca de 1% da massa vegetal torna-se cinzas. Isso porque boa parte é transformada em calor nas chamas das fogueiras. A parte que não é combustível, como os minerais básicos, permanecem como cinzas. Esses minerais são o resultado da absorção de elementos inorgânicos necessários para a vida da planta. As cinzas são, por assim dizer, um extrato dos elementos primordiais oferecidos pelo solo.
Para utilizar as cinzas como esmalte é desejável que o forno atinja, pelo menos, cone 10 (cerca de 1.300º C). Para as cinzas de arroz que, como disse, são mais ricas em silício, as temperaturas devem ser superiores à isso. Além disso, a queima por redução é a que mais se adequa aos esmaltes de cinzas.

O Preparo

O preparo não é complexo mas é trabalhoso. Você pode queimar a madeira em uma churrasqueira, se quiser. Mas raspe o interior dela e limpe bem para que restos de ferrugem não contaminem as cinzas com o ferro. Também é bom queimar um tipo somente de madeira. Isso porque se você quiser repetir a receita, terá mais chances de resultados parecidos na próxima vez que for fazer. A queima deve ser lenta para assegurar a combustão completa do material. Isso pode demorar de dois à três dias.

A queima da madeira

Depois de completamente queimado, você deverá separar as cinzas dos pedaços de carvão e outras impurezas. Use uma peneira de malha 80 e coe o material. Atenção: as cinzas possuem substâncias muito cáusticas que podem entrar no aparelho respiratório e causar sérias irritações. Use uma máscara e luvas durante esse processo!
Após a coagem das cinzas, você terá duas opções: poderá lavar ou utlizá-las do jeito que estão como ingredientes de um esmalte. As vantagens da lavagem é que você consegue retirar os elementos solúveis que fazem com que o esmalte escorra muito. Para isso, coloque as cinzas em um balde e encha de água. Misture bem. No dia seguinte, descarte a água e as impurezas que estiverem na tona. As cinzas deverão estar depositadas no fundo. Repita esse processo por 4 ou 5 vezes até que a água descartada esteja clara. Após isso, deixe a cinza secar em uma placa de gesso e guarde para o uso no esmalte.

Composição

Agora, resta fazer os testes para ver como as cinzas que você produziu vão ficar depois de queimadas.
Seguem as sugestões de receitas para os testes do livro de Brian Sutherland, Glazes from Natural Sources:

Teste 1:

Feldspato 50% 60% 70% 80%
Cinzas 50% 40% 30% 20%

Teste 2:

Argila 50% 60% 70% 80%
Cinzas 50% 40% 30% 20%

nota: a argila deve ser pesada totalmente seca

Conclusão:

A utilização das cinzas é uma oportunidade que pode aproximar o ceramista aos elementos naturais mais básicos. Sua obtenção requer pouquíssimo beneficiamento, fazendo com que o ceramista tenha mais domínio sobre os processos produtivos da cerâmica. Também, graças à variabilidade do material, oferece um amplo espectro de efeitos a serem explorados.

Fontes:

  • Forrest, Miranda. The New Ceramics Natural Glazes, Collecting and Making. Ed. University of Pennsylvania
  • Sutherland, Brian. Glazes from Natural Sources. Ed. University of Pennsylvania Press