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No post anterior apresentei as cerâmicas Song do norte da China. Hoje vou mostrar alguns dos exemplos representativos das cerâmicas da dinastia Song no sul chinês.

Introdução

Foi na época da dinastia Song que fornos famosos se estabeleceram no sul da China. O grande pólo de porcelanas de Jingdezhen, por exemplo, foi um deles. Vejamos no mapa a localização
dos principais fornos no sul da China das Dinastias Song.

Mapa com os principais fornos das Dinastias Song no sul da China. Fonte: The Handbook of Chinese Ceramics.

Fornos da Dinastia Song no Sul da China

Cerâmicas Yue

As cerâmicas de Yue têm uma longa história. Suas peças foram as precursoras do celadon, influenciando fortemente os ceramistas coreanos na era Goryeo (918-1392). Porém, em algum momento durante o final do séc. XI ou XII a longa e ilustre tradição dos fornos de Yue do norte de Zhejiang chegou ao fim. O prestígio que possuía junto à corte foi se desfazendo ao mesmo tempo em que as cerâmicas do sul da província de Zhejiang foram sendo mais valorizadas. Os fornos de Yue localizavam-se na área ao sul da atual cidade de Xangai, no delta do rio Yangtzé.

Cerâmicas Longquan da Dinastia Song do Norte

O celadon de Longquan foi inscrito em 2009 na lista representativa de herança cultural intangível do patrimônio cultural da UNESCO. Estes fornos tiveram uma importante participação na produção de peças cobertas pelo esmalte celadon na China desde o início da dinastia Song do Norte até os meados da dinastia Ming (1368 – 1644). Eles são localizados do sul da província de Zhejiang e investigações recentes descobriram literalmente centenas de fornos espalhados nestes locais, todos responsáveis para a produção desses celadons. A concentração maior ficava entre os fornos de Dayao e de Jincun, em Lonqguan xian (veja mapa).

Diante da influência mais direta da dinastia Song do Sul, as cerâmicas de Longquam se aperfeiçoaram. Estudos feitos nos esmaltes mostram que muito dos que foram feitos anteriormente, na dinastia Song do Norte, possuíam um alto teor de cal. Na dinastia Song do Sul eles evoluíram, tendo um pouco menos de cal e mais de composto de álcali e cal.  Esses esmaltes também passaram a ser aplicados e queimados várias vezes até que o efeito de profundidade desejado fosse alcançado.

Dinastia Song do Sul, China. Cerâmica Longquan. Altura 17,1 cm. Museu Metropolitan, Nova Iorque.

Os japoneses foram um dos maiores apreciadores das cerâmicas Longquam e classificaram os melhores exemplares com a palavra “kinuta“, que significa um martelo de madeira usado para desamassar as roupas na sua antiguidade. Isso se deve supostamente pela semelhança que havia desta forma com um exemplar de incomparável tom verde-azulado. 
 

Cerâmica Guan

Guam que dizer, literalmente, “oficial” e certas peças Ru, Jun e até mesmo Ding podem ser consideradas oficiais no sentido mais amplo pois eram destinadas à corte. Mas, sendo mais rigoroso na definição, esse termo se aplica somente às peças produzidas pelos fornos administrados pelo governo imperial, que teve o seu início na dinastia Song do Sul. Os fornos Guan dessa dinastia ficavam baseados na capital do império, Lin’an, atual Hangzhou. Durante esse período, o processo de moldagem da peça era tão refinado que a espessura da parede da peça cerâmica era mais fina do que a própria camada de esmalte.

Qingbai

Existem controvérsias acerca da classificação das cerâmicas Qingbai. Isso porque, algumas vezes, elas se confundem com a família de peças de esmalte celadon. Mas, de uma forma geral, as peças Qingbai são cobertas por um esmalte fino, transparente, geralmente com um leve tom azulado que apresenta uma coloração mais acentuada onde estão os baixo-relevos ou entalhes dos desenhos. Os corpos das peças dos melhores exemplares Qingbai são brancos, translúcidos e finos. Já as peças de celadon tem a espessura da argila mais grossa, o esmalte é mais profundo e tendendo para o verde. Apesar de existirem relatos de Qingbai no norte da China, as porcelanas Qingbai são basicamente nativas do sul chinês. A província Jiangxi foi a maior produtora e é provável que os fornos nas redondezas de Jingdezhen tenham sido responsáveis pelo maior volume e peças de qualidade superior.

Vaso com tampa com desenho de ameixeiras (meiping) com detalhes de lótus. Cerâmica Qingbai, dinastia Song do Sul, China.

Cerâmicas Jizhou

Cerâmicas brancas foram produzidas tanto no norte como no sul da China durante a dinastia Song. Uma quantidade dessas cerâmicas brancas, encontradas nos complexos de fornos de Jizhou,
na província Jiangxi, mostram influência dos materiais encontrados dos fornos do norte, particularmente as porcelanas clássicas Ding, na província de Hebei.  Além das cerâmicas brancas, os fornos de Jizhou também produziram muitas tigelas de chá de caráter mais rústico mas não menos cativantes. O esmalte variava de uma cor de chocolate escuro até o marrom amarelado. Um dos vários artifícios interessantes de ornamentação que foram desenvolvidos era o de colocar folhas sobre esse
fundo escuro como uma forma de impressão amarela ou bege cremosa. Provavelmente eles também empregavam desenhos cortados de papel como máscara na hora da aplicação do esmalte.

Tigela de chá com decoração de folhas. Dinastia Song do Sul, China. Cerâmica de alta-queima com engobe branco e máscara de folhas e esmalte preto. Cerâmica Jizhou. Diâmetro 14,3 cm.
The Metropolitan Museum of Art, New York.

Outro efeito frequente é o chamado marca de “casco de tartaruga”, no qual um esmalte marrom escuro com respingos irregulares amarelos ou creme é aplicado sobre a peça.

Cerâmicas Qilizhen

Outros complexos de fornos do sul da China também produziam cerâmicas de alta queima de cor escura, frequentemente juntamente com esmaltes celadon, branco ou qingbai. Um dos exemplos mais
interessantes desses complexos é o grupo dos fornos Qilizhen, perto de Ganzhou, província de Jiangxi.

Cerâmica de alta-queima com desenhos riscados sobre argila. Altura:
10,2 cm, Dinastia Song do Sul – Yuan. Possivelmente cerâmica Ganzhou,
China.

Cerâmicas Jian

Muitos tipos de cerâmicas com esmaltes de cores escuras foram produzidos no sul da China na época da dinastia Song. Talvez as mais características sejam as tigelas de chá fabricadas pelos forno de Jian, na província de Fujian. Essas tigelas tinham um esmalte lustroso, preto-amarronzado ou preto-azulado normalmente com listras escorridas marrons, semelhantes ao pelo de lebre. Mais raro, porém, era a aparência nas peças de manchas se assemelhando às manchas de óleo. O esmalte era bem espesso e podemos ver como a camada de esmalte escorria para baixo da tigela, como uma gota congelada, um fragmento temporal de quando estava no forno.  Uma designação popular para essas peças com esmalte escuro é tenmoku, pronúncia japonesa de Tianmu, nome de uma montanha chinesa no norte da província de Zhejiang. De acordo com a tradição, esta montanha abrigava um templo budista muito visitado pelos monges japoneses que levaram tigelas de chá ao Japão, onde foram muito apreciadas.

Song do Sul, China, Cerâmica Jian, esmalte “pelo de lebre”. 7 cm de
altura e 12.7 cm de diâmetro. Museu Metropolitan, Nova Iorque

Porcelanas Azuis com fundo Branco

Existem estudos que comprovam que porcelanas azuis com fundo branco da dinastia Song são um elo entre as porcelanas da era Tang, mais antigas, e as famosíssimas porcelanas da era Ming, posteriores. Com isso, além da influente família de cerâmicas já atribuídas à dinastia Song , podemos incluir também um dos produtos mais famosos da China como tendo a sua descendência na era Song chinesa.

Fontes:

  • Velenstein, Suzanne G. A Handbook of Chinese Ceramics. The Metropolitan Museum of Art.
  • Chinese Ceramics. China International Press
  • Nilsson, Jan-Erik. Antique Chinese and Japanese Porcelain Collectors’ Help and Info Page. www.gotheborg.com
  • Relationship between Celadon, Qingbai and White wares. www.koh-antique.com/article/qingbaiceladon.htm